Ficar preocupado em ter a privacidade registrada por uma câmera escondida não é exagero e para isso não virar paranoia, Hi-Mundim ensina maneiras de detectar eletrônicos camuflados
Um casal de turistas de São Paulo descobriu uma câmera escondida no quarto do imóvel em que estava hospedado, em um condomínio residencial de luxo em Porto de Galinhas, distrito de Ipojuca, município do litoral sul de Pernambuco.
O caso é investigado pela Polícia Civil do Estado como “registro não autorizado de intimidade sexual”, crime que prevê detenção de 6 meses a 1 ano e multa. Além disso, o casal vai entrar com ação cível contra os responsáveis pelo imóvel.
Episódios similares são cada vez mais frequentes com a evolução tecnológica e o consequente acesso facilitado a aparelhos eletrônicos. Isso tudo faz crescer a desconfiança das pessoas, em especial turistas, quanto ao respeito à privacidade.
Inspeção visual
Se preocupar não é exagero, pois a ameaça de ter a intimidade violada, sabe-se lá por quem e exposta sabe-se para quem, é real. Por isso é importante estar atento e conhecer maneiras de identificar se tem câmera escondida no ambiente.
“Uma dica é inspecionar visualmente o espaço, principalmente quartos e banheiros, em busca de objetos incomuns ou fora do lugar”, diz a delegada de polícia Raquel Gallinati, diretora da Associação de Delegados de Polícia do Brasil.
Outras coisas para prestar atenção são espelhos embutidos, iluminações suspeitas, tomadas, detectores de fumaça, TVs e aparelhos eletrônicos. Além disso, barulhos estranhos também podem indicar a presença de câmera escondida.
Com o smartphone
Câmeras que detectam movimentos ou com visão noturna têm luzes infravermelhas. A luz infravermelha não pode ser vista a olho nu, contudo, pode ser detectada com a câmera do celular. É possível testar esse método em casa.
Deixe o ambiente o mais escuro possível e acione a câmera do celular com o flash desligado. Mire-a no controle remoto da TV e procure por uma luz roxa contínua ou piscante. Caso não encontre, tente utilizando a câmera frontal.
Outra técnica é, ainda com o ambiente escuro, acionar a câmera do celular, dessa vez com a lanterna ligada, e observar pela tela do aparelho se a luz reflete pequenos pontos em lugares incomuns, detectores de fumaça e luminárias.
Espelhos e redes locais
Para descobrir se existe câmera escondida no espelho, aponte a lanterna do celular à procura de pontos transparentes. Toque nos locais suspeitos. Se estiverem ocos, é um forte indício de que possa existir algum equipamento camuflado.
Também é recomendado verificar a rede local de internet e observar o que está conectado em tempo real. Alguns aplicativos, como o Fling, possibilitam selecionar os dispositivos permitidos, facilitando a identificação de câmera escondida.
Outra recomendação de especialistas em tecnologia é testar as tomadas com o carregador do celular. Se a entrada for do mesmo padrão do plugue do aparelho, no entanto, não for possível conectá-lo, é provável que esteja adulterada.
Apps de detecção
Outro método utilizado são os aplicativos de detecção de câmera escondida. Entre os vários disponíveis, os mais bem avaliados compatíveis com o sistema Android são: Hidden Camera Detector e Detector de Câmera Escondida.
Esses aplicativos funcionam como medidores de ondas eletromagnéticas e são capazes de identificar qualquer pulso acima do normal em qualquer aparelho eletroeletrônico, tomada, luminária, espelho e outros objetos suspeitos.
Os aplicativos de detecção de câmera escondida melhores avaliados por usuários do sistema IOS são: Detector de Câmeras Escondidas e Detector de Câmeras, Anti Spyware Detector & Finder. Todos estão disponíveis na Play Store.
Câmera escondida é crime
Gravar momentos íntimos sem consentimento é crime. “Privacidade é direito fundamental. Se houver suspeita de presença de câmera escondida, relate imediatamente à administração do hotel e à polícia”, alerta a delegada Raquel.
O Artigo 216-B do Código Penal informa que registrar, por qualquer meio, cena de nudez e ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado, sem autorização dos participantes, é crime. A pena é detenção de seis meses a um ano e multa.
Dependendo do uso dos vídeos, o crime é mais grave, contra a dignidade das relações sexuais. O uso de gravações clandestinas para obter vantagens pode resultar em acusações adicionais, como chantagem e difamação, entre outras.
Caso mais recente
O casal estava hospedado em um imóvel no Oka Beach Residence, em frente à Praia de Muro Alto. Nas redes sociais o empreendimento se apresenta como condomínio residencial em que alguns proprietários alugam imóveis para turistas.
As vítimas chegaram em 13 de janeiro e logo notaram a tomada na frente da cama. Era uma tomada que não dava para usar por causa do painel de madeira, esses de suporte de TV. No dia 17, o casal ouviu um barulho perto do painel.
Eles contaram à polícia que, desconfiados de que podia ser uma barata, começaram a iluminar o painel com a lanterna do celular, até que perceberam refletir uma luz na tomada. Ainda mais desconfiados, resolveram desmontar a tomada.
O equipamento
Os dois encontraram a câmera ao desmontarem a tomada. O equipamento é de um modelo que, além de gravar imagens, permite a transmissão das cenas em tempo real. O aparelho estava apontado para a cama de casal e tinha cartão de memória.
A polícia foi acionada e, de acordo com a investigação, a posição da câmera indica a provável intenção de obter imagens de hóspedes vivendo momentos íntimos. Até agora não há dados que indiquem quando a câmera foi implantada.
A polícia descartou qualquer envolvimento dos proprietários do imóvel logo no início das investigações. Já a empresa Carpe Diem, que administra o imóvel, informou que vem prestando apoio ao casal exposto e às apurações policiais.
O condomínio
A administração do Oka Beach Residence informou em nota publicada no Instagram que, o condomínio não exerce atividade hoteleira e que as locações são feitas diretamente entre donos de imóveis e turistas.
O condomínio tem estacionamento privativo, piscinas, quadras, salão de jogos, salão de festas, bar, sauna, mini campo, academia, brinquedoteca, playground e heliponto. A diária, com taxas e impostos, custa ao menos R$ 650.
A sucursal pernambucana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/PE) comunicou que o Oka Beach Residence não é associado à entidade e emitiu a opinião de que o caso expõe a fragilidade deste modelo de hospedagem.
