Etnoturismo empodera povos originários

Etnoturismo | Foto: Viva Lá

Etnoturismo são viagens para aldeias, que geram emprego e renda mantendo os indígenas seguros em suas terras. Hi-Mundim traz roteiros em Terras Indígenas do Brasil para experiências imersivas

Em 19 de abril é celebrado no Brasil o Dia dos Povos Indígenas. Momento ideal para falar sobre etnoturismo, que são as viagens turísticas para aldeias com roteiros protagonizados por indígenas.

O etnoturismo contribui com o empoderamento cultural dos povos originários. É uma poderosa forma de devolver a eles o protagonismo de contar a história com suas próprias palavras.

Também gera emprego e renda para que os indígenas se mantenham seguros em suas terras. Além disso, o turismo em aldeias gera conexões profundas entre os viajantes e os saberes ancestrais.

Números

Os povos originários representam 0.6% da população brasileira. São 1.227.642 de pessoas que se identificam como indígenas e vivem em 775 territórios em diferentes fases do procedimento demarcatório, de acordo com dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2022.

Mesmo sendo minoria, os povos originários são responsáveis por proteger 1/3 das florestas do Brasil por meio de seus estilos de vida.

De acordo com análise do ISA (Instituto Socioambiental), por meio do manejo sustentável das terras na agricultura, caça, pesca e uso de materiais, os povos originários cuidaram de mais de 20% da vegetação nativa brasileira nos últimos 35 anos.

Destinos

Com a ajuda da Vivalá, agência que atua com turismo sustentável, turismo de base comunitária e turismo de aventura em 24 unidades de conservação brasileiras, Hi-Mundim traz destinos de vivências indígenas.

Os roteiros de etnoturismo incluem hospedagem, transporte, alimentação, oficinas, vivências como banhos ritualísticos de ervas e de argila, pintura corporal, consagração de medicinas da floresta, visita à agrofloresta e plantio de árvores.

Uma das novidades deste ano são duas opções de etnoturismo com o povo Yanomami, na maior terra indígena do Brasil. A Terra Indígena Yanomami tem 2,2 milhões de hectares entre o Amazonas e Roraima.

As aventuras no Monte Roraima e no Pico da Neblina são de trekking/hiking e contam com percursos de 70 a 140 Km e duração de 10 a 12 dias.

Expedição Monte Roraima | Parque Nacional Monte Roraima (RR)

O Parque Nacional Monte Roraima fica na fronteira do Brasil com a Venezuela. No monte há uma cosmologia envolvida, cheia de lendas, espiritualidade e cosmovisões.

O roteiro estreia no meio do ano e será guiado pelos anfitriões indígenas Taurepang. Vai ter subida ao monte e uma linda experiência de imersão na cultura local e no folclore Makunaima, que compreende os aspectos sacros da sabedoria ancestral de indígenas de diferentes etnias.

O topo do Monte Roraima é um universo com mais de três bilhões de anos de idade e carrega uma biodiversidade endêmica, única e linda, além dos aspectos acerca da espiritualidade e que o transformam em um verdadeiro santuário.

Indígenas são responsáveis por guiar os visitantes

Expedição Yaripo | Parque Nacional do Pico da Neblina e Terra Indígena Yanomami (AM)

A expedição ao Pico da Neblina, ou Yaripo como chamam em Yanomami, estreia no segundo semestre deste ano. A atração, considerada a maior aventura do Brasil, ficou fechada de 2003 a 2022.

A maior montanha do Brasil possui 2.995 metros e fica dentro do Parque Nacional do Pico da Neblina e da Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil.

Lá, vivem cerca de 30 mil indígenas. Durante a expedição será possível ter contato com os Yanomami da região de Maturacá, um povo cujo primeiro contato com populações não indígenas foi a menos de 70 anos.

A região é remota e é necessário 2 horas de carro e 6 horas de voadeira (barco) da cidade mais próxima, São Gabriel da Cachoeira, ou 1h30 de avião fretado de Manaus. A experiência é bastante marcante e de grande desafio físico.

Povo shanenawa, no Acre

Expedição Amazônia Aldeia Shanenawa | Terra Indígena Katukina Kaxinawá (AC)

No coração da Amazônia, maior floresta do mundo, e dentro de um dos estados com a maior diversidade de povos indígenas do Brasil, o Acre, está a Aldeia Shanenawa, do povo shanenawa, conhecido como povo do pássaro azul.

Com saídas ao longo do ano com 20 vagas em cada uma, a expedição parte de Rio Branco, capital do Acre, e custa a partir de R$ 5.700 para oito dias de vivência.

Expedição Kariri-Xocó | Terra Indígena Kariri-Xocó (AL)

Outra forma de adentrar territórios indígenas de maneira consciente, autorizada e profunda é no encontro da caatinga com a Mata Atlântica, às margens do rio São Francisco, na divisa de Alagoas com Sergipe, onde habita o povo Kariri-Xocó. Com saída de Aracaju (SE), custa a partir de R$ 2.850.

Expedição Tenondé-Porã | Terra indígena Tenondé-Porã, São Paulo

Para quem busca uma vivência mais curta, mas também muito significativa, têm roteiros acessíveis e próximos de São Paulo, capital. Na expedição para a Terra Indígena Tenondé-Porã é possível conhecer os hábitos, a luta por autonomia e a resistência do povo guarani.

A Terra Indígena Tenondé-Porã tem 16 mil hectares e de 10% fica entre a cidade de São Paulo e outros três municípios. Fica a 55km do centro da capital e a visita pode ser feita em um único dia.

São quatro viagens por mês. A vivência tem transporte saindo da capital, com valores a partir de R$ 285 por pessoa.

Atividade na Terra indígena Tenondé-Porã

Etnoturismo na região

O estado de São Paulo abriga 45 terras indígenas, 29 com algum tipo de regulamentação e 16 aguardando regularização.

Há registros de que a terra onde hoje fica Rio Preto era habitada por indígenas da etnia Guarani. No início do século 20, com a proliferação de doenças como sarampo e gripe espanhola, o Spiltn (Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais) direcionou o povo para Avaí, cidade da região de Bauru, no centro do estado.

Atualmente, no oeste e centro-oeste paulista têm três terras indígenas. Uma delas é Icatu, que pertence ao município de Braúna, na região de Araçatuba, distante 150km de Rio Preto. Lá habitam 155 indígenas das etnias Kaingang e Terena, principalmente.

É possível visitar Icatu por meio do programa “Adote uma Aldeia”, coordenado há 24 anos pela professora Niminon Suzel Pinheiro, pós-doutora em antropologia e doutora em história e sociedade, ambos pela Unesp.

Na Terra Indígena de Icatu o roteiro inclui uma palestra às margens do rio Tietê, contato com os indígenas e visita à feira de artesanato.

Também participam da Festa do Peixe, com danças e cantos dos Kaingang e Terena. Escutam o pajé Cândido, o chefe Ranulfo, o cacique Ronaldo e as artesãs Neusa e Deolinda.

Os visitantes dormem na aldeia e participam do café da manhã, fazem trilha na matinha local, guiada pelos Kaingang e Terena, visitam a cachoeira, e por fim, participam do almoço.

A viagem pode ser feita por famílias com crianças, aliás pequenos de até 7 anos não pagam. Mas o passeio é bem rústico. Tem de levar blusa de frio e cobertor, colchonete, barraca ou rede com corda para amarrar e roupa de banho.

Custa R$ 190 por pessoa.

Viajante sustentável

Uma viagem de etnoturismo requer atenção e estudo para que a expedição seja prazerosa e positiva para o visitante e para o anfitrião.

Os viajantes são orientados a respeito do comportamento adequado em experiências na natureza e junto a comunidades tradicionais.

As orientações, aliás, deveriam ser praticadas o tempo todo. Como por exemplo usar somente produtos de higiene e cosméticos biodegradáveis e reutilizáveis, levar uma sacola de pano que sirva lixeira temporária, seguir as orientações dos guias da comunidade local e praticar o consumo consciente.

Outra orientação é pesquisar sobre a comunidade que vai visitar para saber mais sobre os costumes e conferir com atenção as regras de visitação.