A Rota dos Escravos, na África, é a chance de conhecer um dos episódios mais cruéis da história da humanidade: o escravagismo, que aterrorizou o continente por séculos.
O passeio histórico foi inaugurado em 1994, em Ouidah, no Benin. Desde então vem sendo implementado por outros países africanos para alavancar o turismo.
Nos últimos anos, esses países têm recuperado patrimônios, erguido monumentos e museus, com objetivo de atrair visitantes do mundo inteiro.
Escravagismo
O tráfico negreiro impulsionou a economia europeia entre os anos 1450 e 1900.
O comércio de escravos começou no Golfo do Guiné (Enseada do Benin), na costa atlântica.
Alastrou-se pelo rio Níger, alcançando a costa oeste e depois o oriente africano, banhado pelo oceano Índico.
Estima-se que mais de 11 milhões de pessoas foram traficadas da África para colônias europeias nas Américas.
Rota dos Escravos
Conhecido como Costa dos Escravos, o litoral do Benin foi palco de comércio ativo pelos portugueses a partir de 1472.
Entre 1754 e 1849, o tráfico foi controlado por Francisco Félix de Souza, mulato brasileiro, nascido na Bahia.
A Rota do Escravo, Resistência, Liberdade e Herança em Ouidah é um dos pilares estratégicos para o desenvolvimento do turismo no Benin, hoje responsável por 0,7 do PIB.
Última visão
A praia de Ouidah, na época do escravagismo a última parada antes de cruzar o Atlântico, desde 1995 abriga o Portal do Não Retorno.
O monumento foi erguido pela Unesco, em memória à última visão que milhões de pessoas, que foram arrancadas de seus lares, tiveram de seu continente.
A praia de Ouidah também é rica em ofertas de alimentação, hospedagem e lojas de artesanato.
Percorrer o roteiro e conhecer todos os pontos históricos leva três dias.
Ilha de Goreé
A Ilha de Goreé ficou conhecida como Ilha dos Escravos.
O embarque é no porto de Dakar, capital do Senegal, e provoca uma mistura de sentimentos.
Em meio a céu azul e águas claras é possível avistar casas brancas de telhados vermelhos. É como entrar em uma bela pintura capaz de esconder um lado sombrio.
Por séculos a ilha serviu de posto do tráfico negreiro.
As gameleiras rosadas que adornam as fachadas das construções e as vielas são alguns dos atrativos.
A exposição dos artistas pelas ladeiras e a visão do oceano Atlântico fazem da Ilha de Goreé um dos principais pontos turísticos do Senegal.
A ilha tem boa estrutura de atendimento ao turista.
Tem diversas opções de restaurantes, bares, choupanas, ateliês de arte e pousadas.
O turismo é intenso em qualquer dia da semana.
O passeio pode ser feito em um dia e, neste caso, a dica é ficar em Dakar.
A cidade oferece ótima estrutura hoteleira e diversas outras atividades para o turista.
Tanzânia
A Tanzânia é a atração 5 estrelas do oriente africano. Zanzibar, ilha paradisíaca na costa do oceano Indico, é rota do turismo de luxo. Tem resorts magníficos.
Porém, por sete séculos, foi importante entreposto de escravos, controlados pelos mulçumanos, que desde o século 12 dominavam a Ilha.
Zanzibar abriga o Memorial da Escravidão, construído em 1998.
É um fosso com cinco esculturas no interior. São escravos acorrentados uns aos outros, pelo pescoço, com correntes originais usadas no século 19.
O antigo mercado de escravos hoje abriga a Catedral Anglicana, que mantém no subsolo 15 celas onde amontoavam-se de 50 a 75 escravos, aguardando embarque.
Angola
Angola foi o país mais aterrorizado pelo tráfico de escravos.
Atualmente, 23 monumentos espalhados por nove províncias constituem o roteiro turístico de memória do país.
O problema é que alguns desses locais não contam com boa estrutura hoteleira, de serviços, e de guias turísticos formados.
Mas, como diz o historiador angolano Camilo Afonso, o reconhecimento do valor histórico do tráfico negreiro é o primeiro passo para garantir o desenvolvimento cultural e turístico da África, e contribuir para a preservação da memória dos povos que foram atingidos.
* Colaboração
Silvana Saraiva, presidente mundial do Instituto Feafro