Plebe Rude abre o 11º Catandupedras nesta sexta-feira

Plebe Rude faz show de abertura do 11º Catandupedras | Foto: Caru Leão

Com 8 shows e 1 curso, 11º Catandupedras é atração do mês de julho na cidade mais roqueira do Noroeste Paulista: Catanduva

O 11º Catandupedras, festival de rock promovido pelo Sesc Catanduva, começa nesta sexta-feira (7/7), com show da Plebe Rude. Já no sábado (8/7), a apresentação é de Marcelo Nova.

A programação segue ao longo do mês com shows dos Boogarins, Pão com Cebola, Black Pantera, Last Lover, Papangu e Motocircus.

E tem ainda o curso gratuito “Tudo vira Rock – A influência da música regional no rock brasileiro”, com o músico Caio Páttero.

“Com o passar do tempo o Catandupedras se tornou patrimônio da cidade. O público espera durante o ano todo o anúncio da programação”, diz Marcos Roberto Martins, gerente do Sesc Catanduva.

Os ingressos para os shows custam a partir de R$ 10 e estão à venda na Central de Atendimento, no aplicativo Credencial Sesc SP e através do portal do Sesc.

11º Catandupedras | Programação

Plebe Rude (7/7 – 6F)

A banda de punk rock de Brasília (DF) apresenta às 20h desta sexta-feira (7/7) o show “Evolução Vol. 2”, que conta a história da evolução do homem desde que se tornou bípede até a 4ª Guerra Mundial.

A Plebe Rude foi formada em 1981 e ficou famosa com o hit “Até Quando Esperar” (1986). Com mais de 40 anos de carreira, a banda tem 8 discos. O mais recente, 2ª parte do projeto Evolução, foi lançado em março deste ano.

Marcelo Nova (8/7 – SAB)

No sábado (8/7), também às 20h, Marcelo Nova apresenta no 11º Catandupedras o inédito “As cartas que eu nunca enviei”. De volta à carreira solo após 10 anos, o vocalista do Camisa de Vênus vem trabalhando em parceria com o filho Drake Nova.

O roqueiro baiano diz tratar-se de um passeio sobre amor, ódio, medo, alegrias indescritíveis e tristezas inacabáveis. Além disso, Nova também promete chacoalhar o público com grandes sucessos da carreira.

Marcelo Nova retoma carreira solo após 10 anos | Foto: Paula Rasec

Boogarins (13/7 – 5F)

Os Boogarins, quarteto psicodélico de Goiânia (GO), sobem ao palco do Sesc Catanduva no dia 13, quinta-feira, às 20h, com o show em homenagem ao Clube da Esquina, movimento musical de Belo Horizonte (MG) que completou 50 anos em 2022.

A banda foi formada em 2012 e depois de turnê pela Europa passou a fazer bastante sucesso por lá. São considerados os percussores da neopsicodelia, estilo musical que tem entre seus representantes o grupo australiano Tame Impala.

Boogarins faz show em homenagem aos 50 anos do Clube da Esquina | Foto: Valéria Pacheco

Pão com Cebola (16/7 – DOM)

No dia 16, domingo, a partir das 17h, a atração da 11ª edição do Catandupedras no Sesc Catanduva é uma banda local de punk rock. A Pão com Cebola promete muita energia e um show intenso.

Formada em Catanduva, em 1999 – reta final do período em que a cidade viveu o auge da cena roqueira underground –, a Pão com Cebola tem como 1º registro fonográfico um CD demo lançado em 2001. Em 2003, o grupo lançou um CD homônimo contendo 13 músicas autorais.

A banda catanduvense de punk rock Pão com Cebola é atração do dia 16 | Foto: Divulgação

Black Pantera (20/7 – 5F)

O power trio de hardcore Black Pantera toca no dia 20, quinta-feira, às 20h. A banda, que já participou de grandes festivais como Rock In Rio, Primavera Sound, KnotFest e Lollapalooza, apresenta em Catanduva o show “Ascensão”, nome do 3º álbum, lançado em 2022.

A banda foi formada em Uberaba (MG), em 2014. Os integrantes são negros. As músicas abordam temas como política, racismo e discriminação. O nome do grupo é homenagem aos Panteras Negras, movimento que lutou por direitos civis nos EUA entre os anos 1960 e 1980.

A banda mineira de hardcore Black Pantera | Foto: Fábio Fernandes

Last Lover (23/7 – DOM)

Dia 23, domingo, às 17h, é a vez da Last Lover. A banda tem músicos de Itajobi e Catanduva e músicas em inglês. Nasceu em 2014 tocando covers de Aerosmith, Bom Jovi e Kiss. O primeiro registro de estúdio com sons autorais é de 2016. O álbum “I’m Alive” traz 10 faixas.

Em 2019 a Last Lover registrou em DVD um show feito em Catanduva, em que trouxe no repertório, além de músicas autorais, regravações de clássicos como “Blaze of Glory” (Bon Jovi), “Wonderwall” (Oasis) e “Losing My Religion” (R.E.M.).

Last Lover reúne músicos de Catanduva e Itajobi | Foto: Salomão Daud Neto

Papangu (27/7 – 5F)

No dia 27, quinta-feira, às 20h, o Sesc Catanduva recebe a banda paraibana Papangu com o show “Holoceno”. Com 7 músicas, o álbum independente lançado em 2021 colocou o grupo em posição de vanguarda na cena do metal experimental sul-americano.

Formado em 2012, em João Pessoa (PB), Papangu passou por várias mudanças até chegar à mistura metal progressivo + elementos da cultura regional, prontamente aclamada pela crítica especializada após a estreia de “Holoceno”.

A banda paraibana Papangu é destaque do rock experimental | Foto: Malu de Castro

Motocircus (30/7 – DOM)

O 11º Catandupedras chega ao fim no dia 30, último domingo de julho, com os catanduvenses do Motocircus em show de celebração dos 10 anos do lançamento do disco “Requiem for the Rockets” (2013), o 1º da banda.

A Motocircus foi formada em 2008. Além do disco celebrado, que foi muito bem avaliado pela crítica especializada na época, a banda gravou em 2019 o “The Greatest Show On Earth”. Além de músicas autorais (em inglês), a banda é famosa por tocar clássicos do rock e do blues.

A banda Motocircus encerra o 11º Catandupedras no dia 30 | Foto: Aline Machado

Curso (18, 19, 25 e 26/7)

Nos dias 18, 19, 25 e 26 de julho, terças e quartas-feiras, o 11º Catandupedras promove o curso “Tudo vira Rock – A influência da música regional no rock brasileiro”. Ministrada por Caio Páttero, vocalista e guitarrista da banda catanduvense Motocircus, a atividade é gratuita.

O curso, no Espaço de Tecnologias e Artes, será dividido em 4 aulas, sempre das 19h às 21h. O músico vai contar um pouco da história do rock através de conexões e análises pessoais. É aberto ao público em geral e indicado para maiores de 12 anos.

Capital do rock

Numa Noroeste Paulista cada vez mais dominada pela cultura formatada e patrocinada pelo agronegócio, Catanduva é um respiro para adeptos do bom e velho rock n’roll.

Em sua 11º edição, a consolidação do Catandupedras é mostra de resistência de um legado cultural que viveu seu auge em Catanduva no final do século 20.

Na 2ª metade da década de 1990, a Cidade Feitiço – que tem como mascote uma bruxa voando numa vassoura – recebeu várias bandas nacionais e internacionais bem famosas entre frequentadores da cena underground e até do grande público.

“Pra ter ideia do tamanho do barulho na época, o 1º show do Sepultura depois que a banda resolveu voltar para o Brasil foi em Catanduva”, lembra Edson Carioca Torres, ex-proprietário da Apache Records e organizador de vários shows marcantes.

“O nome de Catanduva aparecia nas camisetas de turnês das bandas e a cidade começou a ficar conhecida entre roqueiros do mundo inteiro”, conta Carioca.

O período rendeu à Catanduva o título informal de capital do rock.

Início de tudo

Edson Carioca Torres chegou a Catanduva em 1989 vindo de São Paulo, onde já frequentava a cena roqueira. “Catanduva tinha umas bandas legais na época. Lembro da Banda do Beco, da Paraíso Negro e da Banda LSD, que tinha um vocalista incrível, o Martinez”, diz.

Outras mostras da veia roqueira de Catanduva que chamavam a atenção de Carioca eram os shows promovidos pela prefeitura 1 vez por mês na avenida Engenheiro José Nelson Machado. “Tocavam bandas que estavam começando e atraia sempre um bom público”.

Tempos depois, entre 1991 e 1993, Carioca aproveitou a maior frequência de bandas internacionais em turnês pelo Brasil e começou a organizar excursões pra shows.

“A comunidade roqueira da região ficou mais unida com essas viagens. As amizades foram ficando mais fortes”, conta Carioca, lembrando que a 1ª excursão que organizou foi pra um show do Iron Maiden, em São Paulo.

As excursões renderam, Carioca abriu uma loja de rock e em 1996 fundou a Apache Records. Logo depois idealizou o Apache Festival, que reuniu bandas da região e Dark Avenger, grupo de Brasília (DF), campeão de vendas de discos da loja. “Vendia mais que o Iron Maiden”, afirma.

A partir daí, a cena underground de Catanduva ganhou proporções até então inimagináveis.

Rockstars

A 1ª banda internacional a tocar em solo catanduvense foi a alemã de heavy metal Gamma Ray, de Kai Hansen, vocalista e guitarrista fundador da banda Helloween.

Catanduva também recebeu as bandas de trash metal Exodus e Nuclear Assault (EUA), a de heavy metal Mercyful Fate (Dinamarca), as de power metal Helloween e Edguy (Alemanha), a de speed metal Primal Fear (Alemanha), a de punk rock Misfits (EUA).

Teve ainda o 1º show do Sepultura na volta ao Brasil. “Esse foi o campeão de público”, lembra Carioca. Teve Blaze Bayley, vocalista e compositor inglês que passou pelo Iron Maiden.

Também teve show de power metal do HammerFall (Suécia), de heavy metal do Anvil (Canadá), de punk rock do Marky Ramone (EUA), de hardcore do Agnostic Front (EUA) e de trash metal do Kreator (Alemanha).

“Sem contar os shows nacionais do Genocídio, Dead Fish, Dorsal Atlântica, Replicantes, Korzus, Ratos de Porão, Gangrena Gasosa, Matanza, Kreasyon. Tudo trazido pela Apache Records”, recorda José Carlos Valadares Júnior, professor que viveu o período bem de perto.

A ótima receptividade do público aos shows promovidos pela Apache Records encorajou novas iniciativas. O Sesc Catanduva, por exemplo, promoveu um show de rock progressivo da banda Focus (Holanda).

“Além disso, bares da cidade trouxeram bandas setentistas do Brasil, como o Made In Brazil, Casa das Máquinas, Terreno Baldio. Isso sem falar em bandas mais populares, como Ira!, Titãs, Raimundos, entre outras, inclusive internacionais”, diz Valadares.

Extreme Noise Terror (Inglaterra) em show de 2012, no Armazem do Café | Foto: José Carlos Valadares Jr

Causos

O hoje professor Rodrigo Nardini, que atuou como agitador cultural do Sesc Catanduva por 15 anos, lembra de quando fez a produção do show do ex-integrante do The Police Andy Summers & Victor Biglione, guitarrista argentino naturalizado brasileiro.

“Andy comeu uma coxinha e teve um desarranjo intestinal tão forte, que conseguiu participar somente de 5 músicas do show”, conta.

Outro episódio envolveu o vocalista da Gamma Ray, o ex-Helloween Kai Hansen, que chegou a Catanduva com problema na voz.

“A passagem de som foi horrível. Aí pediram pra eu arrumar chá de romã. Peguei umas romãs no pé de uma casa perto da minha e prepararam o chá. À noite o cara cantou como se não tivesse acontecido nada”, lembra Carioca.

Quem também guarda muitas lembranças dessa época é Valadares, que teve a oportunidade de jantar em uma churrascaria com Blaze Bailey após ser sorteado em uma promoção da Apache Records.

“Comi bem, mas fiquei calado o tempo todo. No final pedi pra tirar uma foto e ele, gentilmente, topou”, lembra o professor, que perdeu o registro depois de uma pane no computador.