Dia da Cachaça: curiosidades e destinos para apreciar a bebida

Passeio no alambique do Hotel Fazenda Campos dos Sonhos, em Socorro, SP

Cachaça, pinga ou aguardente? No Dia da Cachaça, descubra oito curiosidades sobre a primeira bebida destilada das Américas

No dia 13 de setembro é celebrado o Dia da Cachaça. A data foi criada em 2009, pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). E você sabia que a cachaça é a terceira bebida destilada mais consumida no mundo e a primeira no Brasil?

Segundo dados do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC), a produção é em torno de 1,3 bilhão de litros por ano, sendo que cerca de 75% desse total é proveniente da fabricação industrial e 25% artesanal.

Além disso, de acordo com informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil consome quase toda a produção de cachaça, ou seja, apenas cerca de 1% a 2% é exportado, o equivalente a 2,5 milhões de litros.

Neste caso, os principais países compradores são Alemanha, Paraguai, Itália, Uruguai e Portugal.

Trata-se de uma bebida nobre, que agrada a diversas camadas sociais, ainda sendo vendida em dose, seja em bares nas periferias ou em restaurantes e cachaçarias.

Em homenagem a data, Delfino Golfeto, especialista, cachacier ou sommelier de cachaças, e fundador da Água Doce Sabores do Brasil, rede com 80 restaurantes no País desvenda curiosidades da bebida.

Cachaça, bebida tipicamente brasileira

Breve história da cachaça

Criada antes mesmo do pisco peruano, da tequila mexicana e do rum caribenho, a cachaça é protagonista da história do Brasil desde a chegada dos primeiros portugueses, no início do século 16.

Apesar da importância secular, o único consenso sobre a origem da bebida é a de ter sido destilada pela primeira vez entre 1516 e 1532, em algum engenho do litoral entre os estados de Pernambuco e São Paulo.

Subproduto dos engenhos coloniais de açúcar, a cachaça, produzida a partir do mosto da cana-de-açúcar fermentado, passou a ser oferecida para os escravos, que foram mão-de-obra principal do setor entre os séculos 16 e 18, no período que ficou conhecido historicamente como Ciclo do Açúcar.

Estima-se que nas últimas décadas do século 16 tenham desembarcado no país entre 10 mil e 15 mil escravos por ano, vindos principalmente de Guiné, Congo e Angola.

Entre 1710 e 1830, a bebida passou exportada e, inclusive, usada como moeda. Registros de históricos de transações da época indicam que pelo menos 310 mil litros de cachaça foram enviados anualmente para Luanda, capital de Angola, sendo que 25% do volume foi trocado por escravos.

Por causa dessa ligação direta com a escravidão, a bebida passou a enfrentar resistência em alguns países da Europa, na época em que movimentos contra a escravidão passaram ganhar notoriedade.

Curiosidades sobre a cachaça

Cachaça, pinga ou aguardente?

Essa confusão é mais comum do que se imagina. A cachaça é um destilado 100% brasileiro que provêm exclusivamente da cana-de-açúcar, com a graduação alcoólica entre 38% e 48% em volume.

Já no caso da aguardente, este é o nome dado a qualquer bebida obtida a partir da fermentação e destilação de vegetais doces, com graduação alcoólica de 38% a 54%. Por exemplo: a aguardente de cereais produz diversos tipos de uísque, assim como a aguardente de agave traz opções de tequilas.

Bebida histórica e cultural

De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), a bebida faz parte de manifestações folclóricas, profanas e religiosas, como bailes, folguedos, jogos, casamentos, nascimentos, batizados, velórios, folias, novenas, ladainhas e rezas.

Além disso, por estar presente em todo o tipo de ambiente, no passado, a cachaça serviu como veículo de comunicação de acontecimentos políticos e sociais por meio dos seus rótulos.

Variedade de rótulos

Atualmente, existem mais de 4 mil marcas de cachaça no mercado brasileiro. E no início de 2023 foi lançada a mais cara do mundo aqui no Brasil. O valor de venda é de US$ 180 mil, o equivalente a quase R$ 1 milhão.

Surgimento da Caipirinha

Ainda segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), feita exclusivamente com cachaça, limão, açúcar e gelo, a Caipirinha foi criada no interior do estado de São Paulo, como remédio contra gripe. Isso ocorreu em 1918, durante o surto da Gripe Espanhola no Brasil.

Mas tornou-se conhecida apenas na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. Hoje, é um dos drinques mais consumidos no Brasil e mundo afora quando o assunto é cachaça.

Cachaça é brasileira, mas a cana-de-açúcar não

A origem da planta que pertence à família das gramíneas é da ilha de Nova Guiné, na Oceania. Aqui no Brasil, a cana-de-açúcar foi trazida pelos portugueses em 1520.

Importância da madeira na produção

Diferente de outros destilados mundiais, é possível utilizar mais de 30 tipos de madeira para armazenamento e envelhecimento da cachaça. Este fator é de extrema importância na fabricação da bebida, pois proporciona diferentes cores, aromas e sabores.

Delfino Golfeto explica que tudo começa na plantação da cana-de-açúcar. “A busca pela qualidade começa no preparo do solo para o plantio da cana de açúcar. O processo requer a escolha correta do terreno, um bom preparo do solo e a seleção criteriosa da variedade da cana. Em seguida, o plantio e a colheita precisam ser realizados na época correta.

A moagem, extração da sacarose, fermentação e destilação são processos igualmente importantes. Outra questão que pesa muito é o tipo de madeira utilizada na fabricação, pois isso traz uma modificação química e sensorial na cachaça, além de contribuir com aromas, cores e sabores.

O processo de envelhecimento é feito de acordo com cada tipo de madeira utilizada, sendo que as mais comuns são Carvalho, Amburana e Balsamo.

Isso influencia diretamente no resultado, pois cada madeira cria sabores diferenciados e aromas frutados.

Para ter qualidade, a cachaça precisa ficar armazenada por, no mínimo, dois anos em uma boa madeira. Se ficar acima de oito anos, torna-se um produto nobre e ganha status”, revela o presidente da Água Doce Sabores do Brasil.

Como beber cachaça

Tente ver a transparência, a pureza e a oleosidade da cachaça ao movê-la dentro de um copo ou taça translúcida. Dessa forma, é possível ver as lágrimas da bebida descerem lentamente no copo, mostrando que a bebida é encorpada, como são as verdadeiras cachaças de qualidade envelhecidas em tonéis de madeira.

O segundo passo para beber o destilado é sentir o cheiro e o gosto. Deixe-a na boca por vinte segundos para que sinta o sabor nas partes palatáveis, balançando e trabalhando a bebida nestes locais sensíveis.

“Normalmente, a cachaça possui um teor alcoólico mais elevado, dando a sensação que esquenta ao tomá-la. Sempre brinco que a bebida tem que esquentar e não arranhar. Cachaça boa não tem disso. Já o segundo golinho fica melhor para apreciação. Geralmente, degusto 25 ml, para avaliar uma cachaça de qualidade em 20 ou 25 minutos. Para identificar uma boa cachaça, deve mastigar o cheiro ou o líquido. É dessa forma que se aprende o que é uma cachaça de bálsamo, de carvalho e amburana”, revela Delfino.

Delfino Golfeto é especialista, cachacier ou sommelier de cachaças

Harmonização

Pratos com acento tropeiro, como linguiças, torresmos, carnes suínas e tutu de feijão, se encaixam bem com uma boa cachaça.

Há dois tipos básicos de harmonização: por semelhança, com uma cachaça suave com pratos mais leves (isca de tilápia ou bolinho de bacalhau), ou a contraposição, apostando no contraste, ou seja, uma cachaça mais encorpada com pratos como: torresmo, carnes vermelhas, queijo parmesão, entre outros.

Para que a bebida possa valorizar a comida é preciso levar alguns fatores em consideração, como o teor alcoólico, o índice de acidez, os sabores, o aroma e o tipo de envelhecimento.

No caso das cachaças neutras, que apresentam aspecto cristalino e não passam pelo processo de envelhecimento, os pratos mais indicados são tilápia ao molho de camarão, bolinho de bacalhau, camarão crocante, saladas, queijo provolone e tilápia crocante.

Já no caso das cachaças que passam pelo processo de envelhecimento em tonéis de madeira, é preciso levar em consideração o tipo de madeira utilizada para escolher o prato para harmonização.

As cachaças envelhecidas no Balsamo, por exemplo, combinam com filé-mignon com gorgonzola, picadinho de carne e picanha na chapa.

A Amburana pode ser perfeita quando a opção é um bolinho de carne de sol, bolinho de mandioca recheado, chapa mista com picanha, linguiça e filé de frango e, por incrível que pareça, até mesmo com sobremesas.

O Carvalho, por sua vez, pode ser harmonizado com pratos como escondidinho, costelinha suína, torresmo e carne de sol.

Turismo e cachaça

A estimativa é que existam cerca de 40 mil produtores de cachaça artesanal no Brasil. Nesta reportagem reunimos alguns destinos para apreciar uma boa cachaça.

Em Catanduva, na região noroeste de SP e a cerca de 60 km de Rio Preto, está o engenho mais antigo da região, o Santo Mário. Fundado pelo italiano Baptista Seghese, que refugiou-se no Brasil por causa da 2ª guerra e trabalhava no corte de cana em Piracicaba.

Ele montou no quintal da sua casa um pequeno alambique, juntando peças abandonadas e cedidas pelos patrões, e produziu sua primeira cachaça. Resolveu se mudar para Catanduva e fundou, em 1983, o Engenho Santo Mário, um dos principais pontos turísticos da cidade.

Localizado junto ao Engenho Santo Mario há o Museu da Cachaça, que abriga um dos maiores acervos do gênero no Brasil. Em seu interior o visitante depara-se com uma coleção com mais de 5000 garrafas da bebida.

Tupã, no interior de São Paulo, também tem um Museu da Cachaça, fundado em maio de 2004. Localizado na sede da Água Doce Sabores do Brasil, reúne mais de 3 mil rótulos, além de contar a história da bebida e o processo de fabricação.

Museu da Cachaça em Tupã, SP

Cachaça em Socorro, SP

E na Estância Hidromineral de Socorro, por exemplo, cidade turística localizada no Circuito das Águas Paulista e referência em aventura e ecoturismo, representa este cenário. Há a predominância da cachaça artesanal, produzida em pequena escala por pequenos produtores, na maioria com mão de obra familiar.

No processo de produção a destilação é feita em alambiques de cobre e a fermentação ocorre de forma natural.

Diferente das cachaças industriais, administradas por empresas, a cana-de-açúcar é cultivada em grandes áreas. E, em larga escala são utilizadas, muitas vezes, colunas de destilação e tonéis de aço-inox, a adição de produtos químicos na fermentação e não se separa a parte nobre do destilado.

“A produção de cachaça preserva a tradição da nossa região. São famílias pequenas, de geração para geração, que dão continuidade à história do município”, diz orgulhosa Wellen Mazzolini de Lima Moraes, filha de João Evangelista, proprietário do Alambique Pioneira.

Em Socorro é possível montar roteiro para visitar a plantação e degustar a bebida em um bom bar.

Cachaça em Socorro

A dica é começar pelo tour guiado e gratuito no Alambique Pioneira para entender todo o processo que envolve a produção: área de produção, moagem, caldeira, tachas e alambique.

De lá saem a cachaça prata (branquinha), premiada no Festival de Cachaça Jandaia do Sul/ PR; cachaça ouro (envelhecida no tonel de carvalho e amburana) e canelinha.

Mas, a “marvada” preferida é a cachaça na cana, com sabor adocicado por conta da planta in natura colocada na garrafa. São 36 anos de uma produção artesanal e familiar, que inclui melado, rapadura e açúcar mascavo, vendidos em uma pequena loja na propriedade. Aliás, quem for lá na semana do dia 13 de setembro ganhará uma minicachaça, nas compras acima de R$ 50.

Outro local para visitação diária monitorada é o Alambique do Campo, localizado dentro do Hotel Fazenda Campo dos Sonhos, aberta ao público, com pagamento de entrada, e gratuita para hóspedes.

Os turistas passeiam por todo o processo de produção de cachaça, desde a colheita da cana até o envase, com direito a degustação.

A Cachaça Ouro – envelhecida em barris por mais de 15 anos, o que origina uma bebida excepcionalmente suave e rica em sabores -, Destilada, Bi-Destilada e envelhecida estão disponíveis para compra nas lojas dos hotéis fazenda Campo dos Sonhos, Colina dos Sonhos e Parque do Sonhos.

Empórios com cachaças próprias

O Empório Nono Alpi é parada obrigatória para experimentar a tradicional Cachaça Nono Alpi produzida de forma artesanal desde 1941 com uma das melhores águas do país pelo primeiro alambique do Circuito das Águas Paulista, hoje na terceira geração da família proprietária.

“A Alpi é uma cachaça única, com fermentação natural e destilação feita em alambique de cobre. Uma pinga especial de excelente aroma e sabor principalmente para caipirinhas”, afirma Michele Alpi, sócia do Alambique.

São produzidas outras cachaças que repousam em barris de carvalho, jequitibá rosa, bálsamo ou amburana e entre as mais vendidas está a Gabriela – com mel e canela -, envelhecida no carvalho. E ainda tem as saborizadas com mel, banana, jabuticaba, anis, avelã, catuaba, canelinha e rapadura.

Uma passada no Empório do Lobo garantirá degustação e compra da Cachaça do Lobo, um sonho antigo de seu criador, o engenheiro Maurício Righetto, que desejava produzir uma cachaça diferenciada.

Em 2014, foi adquirida a primeira parte da propriedade rural onde hoje se encontra o Sítio Toca do Lobo. Foram comprados equipamentos modernos em fabricante especializado.

O controle rigoroso da fermentação e a utilização de produtos selecionados, aliados a água vinda da mina dentro da propriedade e ao cuidado de uma produção quase pessoal, garantem uma cachaça fina, artesanal e de altíssima qualidade.

Variedade

Quem gosta de cachaça saborizada de forma artesanal precisa conhecer a do Sabores do Currupira. As cachaças são armazenadas em barris onde são curtidas com frutas e a própria cana, que dão origem à pura, banana, carvalho, café, rapadura e a mais vendida que é a cachaça na cana.

Além do quiosque no Horto, os produtos são encontrados no Grínberg´s Village Hotel ou por aplicativo para todo o país.

Apreciadores da bebida vão gostar de conhecer o Empório do Cristo e a Cachaçaria Santo Mé com inúmeras cachaças para venda.

Bares e restaurantes

Na rota, vale incluir experimentar a bebida em drinques nos bares e restaurantes da cidade.

Os turistas que forem curtir o pôr do sol na Pedra Bela Vista vão adorar a cachaça da Pedra, de saborização própria com capim santo, servida em dose ou no drinque Stone Mood, que ainda leva rum Malibu, limão e água com gás.

A cidreira também é a aposta do restaurante do Camping Boaretto – Vale das Pedras, que tem como especialidade a Caipirinha feita com a planta e limão.

Cultivada e colhida na própria fazenda, a cidreira está sempre fresca para o preparo do drinque com a cachaça artesanal. Outra opção é saborear as cachaças branquinha, amarelinha envelhecida e na cana.

No Lion Bar e Restaurante, a delícia fica por conta da mistura entre cachaça de jambu com limão, açúcar e fernet, na Macunaíma.

Eventos em Socorro

Para Eduardo Bovi, presidente da Associação de Turismo da Estância de Socorro (ASTUR), com mercado aquecido é uma boa hora de investir e atrair os viajantes para a cidade.

No primeiro semestre de 2023 foram 22,4 milhões de turistas circulando pelo estado, enquanto no mesmo período de 2022 foram 18,7 milhões, um aumento de 19,7%. Os dados são do balanço do turismo no estado de São Paulo realizado pelo Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET) da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo.

Se depender do calendário cultural dos próximos meses, Socorro terá vários atrativos. Na segunda quinzena de setembro, dia 24, haverá o evento do Cittaslow, com ênfase no que a cidade oferece para o “bem viver”.

Em outubro, acontecerá o Festival Gastronômico, com novidades de vários estabelecimentos. E, em novembro, o Luzes de Natal, que encanta adultos e crianças ao decorar os principais pontos da cidade.

Saiba mais no site oficial: www.socorro.tur.br