A partir deste domingo, dia 16 de agosto, às 19h, o grupo Varanda Teatro leva o teatro lambe-lambe para a internet.
A temporada virtual do espetáculo [Histórias encaixotadas], inspirado em obras de grandes artistas plásticos, será disponibilizada no YouTube do grupo.
A relação poética e intimista estabelecida no teatro lambe-lambe com o espectador, que espia por um buraquinho a história contida dentro de uma caixa cênica, agora acontecerá através das telas de celulares, computadores, tablets e smart TVs.
O vídeo com o espetáculo poderá ser visto até 16 de outubro pelo canal do YouTube da Varanda Teatro (www.bit.ly/YouTubeVarandaTeatro), grupo de São José do Rio Preto (SP) fundado em 2010 que pesquisa o teatro de formas animadas, em especial as máscaras teatrais e o teatro lambe-lambe.
Lambe-lambe na internet
Contemplado pelo Prêmio Nelson Seixas 2020, da Secretaria Municipal de Cultura, o projeto também irá promover, no decorrer de sua programação, cinco lives no Instagram da Varanda (@varandateatro).
A primeira, neste domingo, às 18h, marca o início da circulação online, com a presença das criadoras do teatro lambe-lambe, Denise Di Santos, baiana, e Ismine Lima, cearense.
As arte-educadoras e bonequeiras vão bater um papo com o pesquisador e caixeiro da Varanda Guilherme Hernandes sobre os 31 anos dessa arte nascida em Salvador (BA) a partir de uma câmera de foto lambe-lambe, aquelas antigamente vistas nas praças.
As demais lives fazem parte da série “Por dentro da caixa”, que começa dia 21 de agosto, na qual o grupo compartilhará o processo de criação de suas caixas de teatro lambe-lambe com o público.
O espetáculo
“[Histórias encaixotadas]” é composto por quatro caixas de espetáculos nas técnicas do teatro lambe-lambe, com histórias independentes, porém, interligadas pelo tema “o homem e a sociedade”.
O grupo apresenta releituras em miniatura e cria movimentos para obras dos seguintes artistas plásticos: o brasileiro Goeldi (1895-1961), o belga René Magritte (1898-1967), o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e a brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973).
As histórias se desenrolam de maneira visual e sonora, sem uso de textos e utilizando-se de bonecos de manipulação direta e bonecos de vareta, a manipulação indireta.
A partir de uma relação simples e intimista com o espectador, as histórias apresentam um conflito a ser resolvido, envolvendo elementos como tensão, fantasia e surpresa – seja através de um cenário que se transforma, da mudança de luzes, do movimento repentino de um objeto.
João Darte, pesquisador, caixeiro e diretor da Varanda, conta que a obra nasceu do desejo do grupo em trabalhar com a poética dos pequenos objetos. Isso começou a ganhar corpo a partir de uma residência artística realizada no FIT Rio Preto (Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto), em 2017, quando o grupo recebeu orientação artística de Tiago Almeida, diretor e fundador do grupo Girino e do Festim (Festival de Teatro em Miniaturas de Belo Horizonte) e do bonequeiro argentino Abel Saavedra, fundador do grupo Seres de Luz e Serafin Teatro.
Em 2018, a Varanda circulou por várias cidades do interior paulista com o espetáculo, através do ProAC Editais, da Secretaria de Estado da Cultura, e, ano passado, promoveu, em São José do Rio Preto, a primeira edição do MINI – Festival de Teatro Lambe-Lambe, com fomento do Prêmio Nelson Seixas, homenageando os 30 anos do teatro lambe-lambe.
O espetáculo “[Histórias encaixotadas]” inicialmente seria apresentado ao ar livre, em parques, praças e espaços públicos de diferentes regiões de São José do Rio Preto. Por conta da pandemia do novo coronavírus, as apresentações foram transportadas para o ambiente virtual, com o vídeo do espetáculo disponibilizado no canal da companhia no YouTube.
Por dentro da caixa
A caixa de teatro lambe-lambe traz espetáculos de curtíssima duração, assistidos por uma ou duas pessoas por vez. Esse universo em miniatura é composto por iluminação, sonoplastia, cenário e personagens, interpretados por bonecos, objetos, sombras ou papel.
O artista manipula esses elementos através de furos nas laterais da caixa. Enquanto isso, o espectador espia por um buraco e tem o auxílio de fones de ouvido e um tocador de MP3 para acompanhar a história.
A Varanda irá compartilhar o processo de construção e montagem das quatro caixas que compõem “[Histórias encaixotadas]” a partir do dia 21, 18h, na live no Instagram “Por dentro da caixa Guerra”, com o pesquisador e caixeiro Guilherme Hernandes.
A caixa “[Guerra]” é inspirada em uma das obras mais famosas de Picasso, “Guernica”, na qual ele retratou o bombardeio à cidade de Guernica na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Dentro da caixa, novas imagens surgem e movimentam o ateliê do pintor, misturando sonho e realidade.
No dia 22, 18h, será a vez de João Darte comandar a live “Por dentro da caixa Tupi or not Tupi?”, criada a partir do quadro “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, nome de origem tupi-guarani que significa “homem que come gente”. Na história, o personagem de mãos e pés enormes está com fome em um lugar onde tem apenas um cacto e um sol. Nesse cenário, ele precisa tomar uma decisão.
As demais lives da série “Por dentro da caixa” estão programadas para setembro. Dia 19 de setembro, a pesquisadora e caixeira Fernanda Missiaggia comanda o bate-papo “Por dentro da caixa Apenas um ladrão”, inspirada na xilogravura “O Ladrão”, de Goeldi. A história mostra a visão do ladrão após cometer seu roubo, ainda esbaforido, seguindo sua fuga com pressa.
Dia 26 de setembro, quem conversa com o público é a pesquisadora e caixieira Laura Barbeiro, na live “Por dentro da caixa O voo da alma”. A obra “O Terapeuta”, de Magritte, serviu de inspiração para o mini-espetáculo. Nele, um homem enigmático sem rosto descobre que dentro de seu corpo vive um pombo engaiolado e precisa lidar com sua liberdade interior.
Por meio do projeto de circulação [Histórias encaixotadas] Teatro Lambe-lambe, a Varanda ainda irá disponibilizar a gravação de uma oficina denominada Multiplica [Teatro lambe-lambe] a educadores da rede pública municipal de ensino, visando a formação de multiplicadores do teatro lambe-lambe, e uma oficina online de teatro de papel para alunos da Apae Rio Preto.
Texto: Graziela Delalibera
